Apresentação

IndieLisboa em Transe: Contaminações e Reinvenção

A 16.a edição do IndieLisboa traz consigo o desafio e a responsabilidade acrescida de suceder à segunda melhor edição de sempre do festival. Em 2018 recebemos mais de 37 mil espectadores em sala, um salto quantitativo excepcional feito sem que nos tenhamos desviado do conceito e da qualidade de programação que nos orienta e a que temos habituado os nossos espectadores ao longo dos anos.

Numa estrutura de programação que se encontra consolidada e estável, o festival reinventa-se na forma como é produzido e na forma como comunica com o público. O reforço de espectadores está intimamente ligado ao modo como o festival é pensado para ser uma experiência total e como se adapta a novas formas de comunicação, procurando novos públicos. Queremos que as pessoas venham ter connosco, mas não deixamos de procurar ir ter com os potenciais espectadores. Medidas ensaiadas no ano anterior como a aposta e o reforço na comunicação digital e na distribuição dos materiais, novas ideias criativas de comunicação como a utilização de um carro com sistema megafone a anunciar o festival, a criação de cadernetas earlybird, o convite a artistas emergentes como Conan Osiris, capazes de mobilizar um grande número de público para as festas grandes do festival, ou a escolha de locais não convencionais para as mesmas festas são apenas alguns dos exemplos de reinvenção que se quer permanente e continuará em 2019.

A nova edição abre com o refrescante e divertido último filme de Harmony Korine e fecha com o novo filme de Nadav Lapid, urso de ouro em Berlim 2019, que navega sobre questões de identidade e reinvenção pessoal. O festival mantém a sua matriz de programação intacta, atenta na revelação dos novos valores do cinema de autor e acompanhando os mais recentes filmes dos realizadores consagrados e coloca de novo em diálogo diferentes gerações de autores e de diversas geografias. Um diálogo reforçado pela recuperação do Foco Silvestre. Aos dois Heróis Independentes: Anna Karina, numa homenagem a uma das mais icónicas actrizes do cinema moderno (organizada em parceria com a Cinemateca Portuguesa), e o Cinema Brasileiro, num olhar crítico e atento sobre uma produção audaciosa, politicamente desperta e resistente aos tempos turbulentos que se vivem no Brasil, junta-se este ano o foco dedicado à obra da dupla Caroline Poggi e Jonathan Vinel. Além de se mostrarem todos os seus filmes, onde se inclui a sua primeira longa Jessica Forever, que estará em competição internacional, foram desafiados para uma carta branca que se revelou surpreendente. Em vez da habitual selecção de filmes preferidos, a escolha recaiu numa performance videojogo e musical. Um jogo de vídeo criado de raíz e jogado ao vivo pelos performers, que se mistura com cinema e música criada em tempo real, que encerra o foco.

Curiosamente esta escolha encontra ecos dentro da programação deste ano do IndieLisboa. Os videojogos, o vórtice de imagens e sons disponíveis na internet, as performances/instalações audiovisuais, o youtube ou os chatrooms são um sinal dos tempos e contaminam vários dos filmes que vimos este ano e que mostramos no festival, como Ne travaille pas, de César Vayssié, Present.Perfect de ShengzeZhu, Make Me Up, de Rachel Maclean, Flesh Memory, de Jacky Goldberg, Operation Jane Walk, de Robin Klengel e Leonhard Müllner, Swatted, de Ismaël Joffroy Chandoutis, Walled Unwalled, de Lawrence Abu Hamdan ou Past Perfect de Jorge Jácome. Filmes estes que constituem parte dos mais de 250 filmes distribuídos pelas várias secções do festival, de vários formatos e géneros, no que é uma das singularidades e forças do IndieLisboa, um festival generalista e que trata com a mesma importância a longa e a curta metragem.

Duas áreas assumem um principal destaque na programação do festival. O cinema português e o IndieJúnior. Este ano mais de 50 filmes portugueses estão distribuídos pelas várias secções do festival, numa aposta assumida no cinema nacional que se renova a cada ano. Se olharmos para o cinema português dentro do festival como um todo, este é o espaço com o maior número de espectadores em sala, o que muito nos orgulha pelo trabalho que fazemos a cada ano. Contudo, enquanto secção individual, o IndieJúnior leva vantagem. Esta é a maior secção do festival em número de espectadores e terá este ano novamente salas cheias de público escolar e familiar para ver uma selecção do melhor cinema feito pelo mundo fora para crianças e jovens dos 3 aos 15 anos, uma sessão especial composta por clássicos polacos de cinema de animação dos anos 60 e um filme-concerto que dará uma nova dimensão sonora a obras de Charles Chaplin e Buster Keaton, organizado em colaboração com a Casa da Música.

Além das sessões de cinema, não podemos deixar de salientar todo um conjunto de actividades paralelas que, como habitualmente, enriquecem o festival e o tornam um espaço de partilha, discussão de ideias, des- coberta e de festa. Algumas dedicadas a um público profissional ou específico, como as Lisbon Screenings, o PLOT, o Fundo de Apoio ao Cinema ou o Cineclube, e outras abertas a todo o público do festival como as LisbonTalks, as masterclasses ou o IndiebyNight que continua a dialogar e a ser contaminado de forma directa pelos filmes do festival, principalmente da secção IndieMusic, e onde este ano poderemos assistir a uma noite histórica com um concerto que junta várias gerações de algumas das mulheres que fizeram e estão a fazer a história do rock em Portugal: Lena d’Água, Adelaide Ferreira, As Gaijas, The Dirty Coal Train, Anarchicks, Panelas Depressão, Clementine, Decibélicas, Matriarca Paralítica e Aurora Pinho.

Tudo isto não seria possível sem o apoio renovado dos nossos principais parceiros e das inúmeras entidades que acreditam no festival e caminham ao nosso lado. À Câmara Municipal de Lisboa e à EGEAC, ao Ministério da Cultura e ao ICA, à Culturgest, à Cinemateca Portuguesa – Museu do Cinema, ao pro- grama Europa Criativa/MEDIA e à Allianz, que continua a ser o patrocinador principal do festival, entre vários outros parceiros e patrocinadores, devemos também a possibilidade de realizar mais uma edição do IndieLisboa.

Terminamos com uma palavra especial de agradecimento à equipa do IndieLisboa, que abraça este projecto com um carinho, dedicação e profissionalismo ilimitados.

Carlos Ramos
Miguel Valverde
Nuno Sena
(A Direcção do IndieLisboa – Festival Internacional de Cinema)