As linguagens singulares no IndieLisboa

Ponto de honra da programação do festival é a escolha de filmes que espelhem algumas das mais singulares vozes da actualidade. Se é verdade que esta base marca toda a programação do festival, não deixa de ser relevante destacar aqui alguns dos filmes que pontuam a actualidade do cinema mundial, ao condensarem novos olhares, uma nova imaginação e o desafio constante pela procura do novo para a imagem em movimento.

Comecemos então pela longa de estreia da dupla que marca ao foco da secção Silvestre desta ano. Jessica Forever estreou em Toronto e, desde então, tem alimentado um burburinho de elogios um pouco por todo o mundo. “Jessica Forever” queima no romantismo violento: num futuro distópico onde jovens sanguinários formam uma família matriarcal revestida a coletes antibala e amor. Uma primeira longa que é o culminar do trabalho da dupla nas curtas (venceram o Urso de Ouro em 2014) – as quais podem ser (re)vistas este ano no Foco Silvestre. A retrospectiva é integral (filmes feito em dupla e individualmente) e haverá uma gaming performance que será o momento mais alto deste foco.

Burning, o mais recente filme de Lee Chang Dong, exibido em competição no último festival de Cannes e que foi considerado pela imprensa especializada como um dos filmes mais importantes do ano de 2018. Depois de 8 anos sem filmar, Lee Chang-dong regressa ao grande ecrã com uma adaptação de um conto de Haruki Murakami, do livro ‘O Elefante Evapora-se’. Uma história de mistério construída sobre um triângulo amoroso ao qual desapareceu um dos vértices. Um perturbante puzzle psicológico que queima lentamente sobre os enigmas da juventude. Segundo o próprio realizador, este é um filme sobre a raiva das gerações mais novas, da sua sensação de impotência e de como têm consciência de que as suas vidas serão piores que a dos seus pais.

Pouco depois de exibirmos “Offside”, no IndieLisboa 2007, Jafar Panahi foi preso e proibido de filmar durante 20 anos pelo Tribunal Revolucionário Islâmico do Irão. Entretanto, 3 Faces é já o quarto filme que o realizador faz ilegalmente, e o seu regresso ao universo feminino e às dificuldades sociais que as mulheres sofrem no seu país. Três mulheres de três gerações, três actrizes a interpretarem actrizes e um vídeo dentro de um filme dentro de outro, com Panahi a fazer de si mesmo. Um complexo jogo de espelhos que nos remete para o melhor do cinema iraniano moderno.

De regresso ao festival, está ainda a filmografia de Mike Leigh, um dos mais consagrados cineastas britânicos da actualidade. Em exibição na secção Silvestre estará Peterloo, uma reconstituição do massacre com o mesmo nome, resultante do ataque da coroa britânica a uma pacífica manifestação pro-democracia.

Fechamos a lista de hoje com I Was at Home But, de Angela Shanelec, vencedor do Urso de Prata no Festival de Berlim, estreia também nas salas do IndieLisboa. Um comovente drama que acompanha a forma como as questões existenciais de uma adolescente podem redefinir o olhar dos adultos que a rodeiam.