O fabuloso mundo do Cinema Emergente

Voltamos a relembrar um dos objectivos mais importantes do IndieLisboa. A missão de um festival de cinema (também) é mostrar aos espectadores os filmes que não teriam oportunidade de ver de outra forma. É de louvar o cinema novo que se faz pelo mundo fora e os realizadores que têm coragem de se aventurar nas suas primeiras obras, muitos deles os grandes cineastas do futuro. A secção Cinema Emergente vem ajudar a preencher o vazio que muitas vezes permanece entre o espectador ávido de novos nomes ou linguagens e o circuito comercial de cinema. Fica o convite para descobrir realizadores e histórias desconhecidas que irão apaixonar quem os quiser revelar.

The Filmballad of Mamadada, de Cassandra Guan e Lilly Benson é uma ode à extraordinária Baronesa Elsa von Freytag-Loringhoven, dadaísta que agitou as águas nova-iorquinas e agent provocateur da sua época. No filme Naomi Campbel, tal como a protagonista Yermén, os realizadores Nicolas Videla e Camila Donoso também estão entre dois mundos, o da ficção e o do real. Yermén é uma transexual que sobrevive como consultora telefónica espiritual e que, na sala de espera de uma clínica estética, conhece uma mulher que quer ficar parecida com Naomi Campbel. O protagonista de Blue Ruin é um assassino quase acidental, desastrado e pouco talentoso, com um datado desejo de vingança, equação à qual o realizador, Jeremy Saulnier, acrescenta um irónico toque de comédia. O jovem realizador Jordi Morató deu vida a fabulosas imagens de arquivo de um homem – chamam-lhe o tarzan de Arguelaguer – que construiu uma cidade-labirinto com as suas próprias mãos e conta a sua história, em The Creator of the Jungle. A protagonista de Suzanne, o filme de Katell Quillévéré é a mesma Suzanne dos versos da célebre canção: o foco da destruição de uma família, a menina-mulher que desperta a compaixão de todos. Obvious Child, um filme de Gillian Robespierre, é uma paródia às comédias românticas que, usando todos os seus ingredientes, exacerba-os, subverte-os, transformando o desamor numa divertidíssima sátira. Os holofotes de Obvious Child estão obviamente virados para Jenny Slate, estrela de Saturday Night Live e stand-up comediant. A descobrir no filme, ficam as razões pelas quais esta espécie de Louis C.K.-to be está a ter tanto sucesso.

Em A Million Miles Away, ao som de Judas Priest e Madonna, a realizadora Jennifer Reeder desenha um conto muito actual: a tendência entre um grupo de adolescentes e a sua professora é de desafio mas quando é preciso decifrar um SMS, o fosso entre gerações desaparece e instalam-se as tréguas. Takahide Hori emergiu de Junk Head 1 depois de 4 anos de um intenso trabalho e o resultado é um filme de culto. Num universo que poderia estar entre a Guerra das Estrelas e Alien, esta animação sci-fi é baseada no combate entre humanos e clones. Mi Nina, mi vida, outro dos destaques da secção Cinema Emergente é o regresso do realizador Yan Giroux ao IndieLisboa, uma ficção na qual um pai tenta minorar a ausência da filha a todo o custo, nem que para isso tenha de visitar um parque de diversões sozinho, tal como se estivesse acompanhado por ela. Virke Lehtinen realizou vários filmes desde os anos 60 mas é totalmente desconhecido fora da Finlândia, o seu país de origem. Hazards é a mais bela razão para o descobrir no IndieLisboa, num estudo sobre a importância das coincidências. Através de Hinoki Farm, de Akiro Hellgardt, o espectador terá a oportunidade de reflectir sobre as suas próprias escolhas ao confrontar-se com um casal que, depois de uma vida abastada e agitada em Tóquio, se retira para uma aldeia e recomeça outra existência diametralmente oposta.